HEBRON Atualidades 52 - Julho-Agosto/2011

Hebron Atualidades // 23 // Por Dênia Sales L evar os filhos à escola, brincar, trocar fraldas, acompanhar ao pediatra, encarar festinhas infantis, dar comida, arrumar cabelo, colocar para dormir... Tarefa de mãe? Não mais. Ele não carregou o filho por nove meses na barriga e nem sentiu as temidas dores do parto, mas, nas últimas décadas, desenhou um novo perfil para a figura paterna que não lembra em nada o modelo autoritário e ausente do passado. São os novos pais, aqueles que choram no dia do parto, contam histórias, brincam e se emocionam com cada conquista da criança. Os “superpais” estão presentes no cotidiano dos filhos e, agora, de forma mais participativa e afetiva. “Superpai é o pai que participa da vida do filho de forma abrangente, não somente com a educação. É importante que ele vá às reuniões da escola, que conheça os amigos do filho, que não deixe de ir às apresentações esportivas. O pai deve estar atento a tudo que aconteceu com o filho no passado para identificar as reações do presente e possa planejar o futuro com olhar cuidadoso”, explica a especialista em terapia familiar, Cynthia Ladvocat, membro docente da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro e ex-presidente da Associação de Terapia de Família do Rio de Janeiro. Os “superpais” Muitos pais, atualmente, não se contentam apenas com o papel de provedor. Abandonaram o manual, que mostrava o que era atribuição do papai e o que era da mamãe, para arregaçar as mangas e cuidar mais efetivamente dos filhos. Gustavo Sales, pai de Pedro Henrique, de um ano e meio, é um dos exemplos do novo papel do pai na sociedade. “Acompanhei minha esposa em todas as consultas e ultra-sons durante a gestação. Todos os dias faço questão de levar e pegar meu filho no hotelzinho e saber do seu comportamento durante o dia, aliás, adoro o sorriso que ele dá quando vou pegá-lo no final do expediente. Tenho orgulho em dizer, também, que nunca faltei às visitas ao pediatra. Em casa, dou banho, faço comida, troco fralda, dou remédio quando está doente e coloco para dormir. Procuro ajudar minha esposa em tudo e ser um pai presente para Pedro”. Os “Superpais” O novo perfil da figura paterna não lembra em nada o modelo autoritário e ausente do passado. Os novos pais trocam fraldas, brincam e se emocio- nam com cada conquista dos filhos Eric de Carvalho também faz as honras de uma mãe para o filho Arthur, de 4 meses. Ele acredita que o papel do pai começa desde cedo e que o envolvimento deve ter início no momento mais precoce possível. “Desde que o Arthur estava na barriga da mãe, com menos de 1 cm, eu tenho consciência de como devo exercer a paternidade. Quando fiquei sabendo da gestação, coloquei na minha cabeça que não bastava ser somente um pai. Eu tinha de ser um “superpai”, conta Eric, que tem um blog na internet intitulado “superpai” – paternidade é coisa de herói”, onde relata suas experiências com o seu filho e passa dicas sobre os pequenos em geral. A função de “superpai” traz muitos desafios para os homens que, historicamente, estão acostumados a ver as mulheres exercendo determinadas funções. Fora as dificuldades da educação, do amor e do carinho, direito básico de qualquer criança, os cuidados cotidianos, às vezes, causam embaraços. Para Gustavo, a experiência do “superpai” mais complicada é a troca de fraldas. “Ainda me embaraço em algumas tarefas, trocar fralda é uma delas. Minha esposa sempre ‘reclama’ que não coloquei a fralda direito, mas o importante é tentar”. Já o “superpai” do Arthur diz que a tarefa mais complicada é fazer o bebê arrotar. “Logo que ele veio da maternidade, sem dúvida, o mais complicado era dar banho e limpar o umbigo. Agora, pode até parecer bobo, mas me embaraço para fazê-lo arrotar. Para mim é uma posição super incômoda, os vinte minutos mínimos parecem não passar quando ele demora a arrotar, e minhas costas vão ficando acabadas. O resto eu tiro de letra!” O novo papel do pai Até os anos 1960, a sociedade era patriarcal. Este modelo de família tradicional estava organizado segundo uma hierarquia em que a figura paternal se baseava essencialmente no poder econômico, isentando-se de possíveis manifestações afetivas com os seus filhos, para não demonstrar algum tipo de fragilidade. Enquanto isso, a mulher era encarregada dos cuidados com a casa e com as crianças. Assim, os pais acabavam se tornando ausentes, e a sua participação na educação dos filhos limitava-se a dar ordens e impor disciplina. Nos anos 1970 e 1980, os homens começaram a expressar mais afetividade. Já nos anos 1990 e 2000, como a maioria das mães trabalha, passou a existir uma demanda da participação do pai no cuidado com os filhos e, hoje em dia, percebem que criar vínculos afetivos é extremamente positivo, não só para as crianças como para eles mesmos. É claro que muitos ainda mantêm alguma distância, principalmente os que foram criados num ambiente conservador, mas deixou de ser regra geral. MATÉRIA // PAIZÃO De acordo com Cynthia Ladvocat, os homens da pós-modernidade perceberam sua importância na vida do filho, não como provedor, mas no cuidado de uma relação para toda a vida. “E muitos avôs, já nessa redefinição, agem diferente com seus netos em comparação como agiram com seus filhos. Essa já é uma grande mudança que atinge, portanto, até as gerações passadas”. É o caso de José Medeiros, que coloca para dormir, dá banho e dá comida quando os dois netos precisam ficar em sua casa, tudo muito diferente de quando seus filhos eram pequenos. “Eu viajava muito por causa do trabalho, o que ajudou a me tornar um pai ausente na infância dos meus filhos. E, mesmo quando estava em casa, não ajudava minha esposa nesta questão. Hoje, tenho melhor conceituado o valor da família e, por isso, adoro brincar e cuidar dos meus netos. Sou um verdadeiro pai-avô”. Novos padrões familiares Essa mudança deve-se, entre outros fatores, à redefinição do papel do homem e da mulher em todos os setores da sociedade, que teve início a partir da luta feminina por direitos iguais aos dos homens e da entrada da mulher no mercado de trabalho. No livro “Comunicação entre Pais e Filhos”, a autora Maria Tereza Maldonado mostra quais fatores colaboraram para esta transformação. “A mulher, hoje, está mais inserida no mercado de trabalho, deixou de ser a única ‘cuidadora’ para ser também provedora junto com o pai. Por isso, tornou-se necessário que homens e mulheres partilhem funções”. Estabeleceram-se, com isso, novas relações entre homens e mulheres, levando ao aparecimento de novos padrões familiares. O homem tem, assim, assistido à ruptura progressiva da hierarquia doméstica. “ O ‘superpai’ participa da vida do filho de forma abrangente, não somente com a educação. É im- portante que ele vá às reuniões da escola, que conheça os amigos do filho, que não deixe de ir às apre- sentações esportivas. Deve estar atento a tudo que aconteceu com o filho no passado para identificar as reações do presente e possa planejar o futuro com olhar cuida- doso”. Cynthia Ladvocat

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