HEBRON Atualidades 52 - Julho-Agosto/2011

Hebron Atualidades // 21 um profissional, um psicanalista, psicoterapeuta, e paralelamente, se necessário, um acompanhamento com um psiquiatra. Buscar um profissional da área, mesmo quando há recusa do paciente, poderá ajudar a família a encontrar uma melhor forma de enfrentar essa dificuldade e, enfim, trazer essa pessoa de volta para a vida”, afirma Ana. Recuperação Sobreviver a uma tentativa de suicídio pode ser uma experiência difícil. O paciente pode sentir alegria ou desespero pelo fato de seu esforço para se matar não ter funcionado. Além disso, as circunstâncias de sua tentativa de suicídio podem contribuir para ter senti- mentos de constrangimento, vergonha e estigma social. A terapia ajuda a desenvolver novas formas de mani- pulação de sentimentos, como desespero e negativida- de. Pesquisa realizada pelo National Institute of Mental Health (NIMH) em parceira com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) , em 2005, aponta que aqueles que tentaram o suicídio e, em seguida, recebeu alguma forma de terapia eram 50% menos propensos a tentar matar-se novamente. Encontrar amigos, familiares e um grupo de apoio é outro passo decisivo. Existem vários grupos de apoio espalhados pelo Brasil. O Centro de Valorização da Vida (CVV), associação civil sem fins lucrativos, é o maior de- les. Fundado em São Paulo em 1962, é mantenedora e responsável pelo Programa CVV de Valorização da Vida e Prevenção ao Suicídio, desenvolvido pelos Postos do CVV em todo o Brasil. Através dos Postos espalhados por todo o país, presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional, oferecido a todas as pessoas que querem e precisam conversar sobre suas dores e des- cobertas, dificuldades e alegrias. Em 1977 começou a expandir-se para outras cidades do país, estando hoje em quase todas as capitais e diver- sas cidades do interior do Brasil. São aproximadamente 45 Postos e 2.400 Voluntários que se revezam para o atendimento 24 horas por dia, inclusive aos domingos e feriados. Esse atendimento é prestado por telefone, e-mail, pessoalmente e via chat. Basta que a pessoa ligue para o telefone 141, ou acesse o site www.cvv. org.br para falar com o Posto CVV de sua região. Em Teresina, capital do Piauí, existe o Grupo de Apoio Contato Esperança – GRACE. Fundado em 2006 por Raimunda Alves de Souza Lima, oferece ajuda a quem necessita de uma palavra de conforto. “Levamos uma palavra de fé, esperança, amor e paz, através de ações diretas, para motivar as pessoas a valorizar a vida e desencorajá-las dos sentimentos suicidas, livrando-as do ato fatalista”. O grupo mantém duas linhas telefônicas - (86) 3237- 0202 Mensagem de Paz (Mensagem diária pré-gravada) e (86) 3237-0077 Palavra amiga (Aconselhamento) – que atendem durante 24 horas, de segunda a sába- do, em plantões de 4 horas. “Além disso, realizamos visitas de acordo com a necessidade do aconselhado, e atendemos, presencialmente, nas dependências do GRACE e, quando possível, encaminhamos o caso para atendimento profissional, visto não podermos clinicar, sendo o nosso serviço restrito ao aconselhamento”. O grupo também realiza palestras em colégios, faculdades e igrejas sobre a temática. De acordo com Ana Lúcia, o suicídio não deve ser encarado como fraqueza. “Sofrimento é sofrimento, não é fraqueza. Cada pessoa enfrenta sua própria his- tória de forma muito singular. Às vezes, há situações e histórias muito difíceis nas quais a pessoa não teve nem aprendeu a elaborar seus próprios conteúdos de uma forma simbólica, não houve mediação pela palavra ou faltou um olhar anterior, não aprendeu a falar sobre as coisas ao invés de agir logo. Desta forma, algumas situações são vividas como sem saída”, afirma. O importante é saber que nunca é tarde para intervir. A ambivalência e o medo de passar ao ato estão pre- sentes até o último momento e o processo pode ser interrompido a qualquer hora, basta apenas uma mão amiga disposta a ajudar // Ana Lúcia Bastos Falcão Ana Lúcia Bastos Falcão é psicanalista membro de Intersecção Psicanalítica do Brasil, participou da organização do Simpósio Joyce-Lacan em Dublin-2005, tem texto publicado no livro “Joyce-Lacan O Sinthoma”. E-mail: albfpsic@elogica.com.br Centro de Valorização da Vida (CVV) Site: www.cvv.org.br Grupo de Apoio Contato Esperança – GRACE Rua 10, 5306, Vila Bandeirantes II, Teresina – Piauí E-mail: jaeramel@gmail.com “Buscar um profissional da área, mesmo quando há recusa do paciente, poderá ajudar a família a encontrar uma melhor forma de enfrentar essa dificuldade e, enfim, tra- zer essa pessoa de volta para a vida”. Ana Lúcia Bastos Falcão // CAPA Método O principal método de suicídio varia dramaticamente entre os países. Os métodos de liderança em diferentes regiões incluem enforcamento, envenenamento por pesticidas e armas de fogo. Em todo o mundo, 30% dos suicídios são através de pesticidas. A utilização deste método, contudo, varia consideravelmente de 4% na Europa a mais de 50% na região do Pacífico. Nos Estados Unidos, 52% dos suicídios envolvem o uso de armas de fogo. Asfixia e envenenamento também são bastante comuns neste país. Juntos, eles compreende- ram aproximadamente 40% dos suicídios nos Estados Unidos. Outros métodos incluem trauma contundente (saltando de um prédio ou uma ponte, jogando-se na frente de um trem, ou provocando um acidente de carro, por exemplo). Há ainda causas menos comuns, como afogamento intencional, choque elétrico ou fome intencional. Epidemiologia O suicídio é a décima causa de morte no mundo, com cerca de um milhão de pessoas mortas anualmente. Em todo o mundo, as taxas de suicídio aumentaram 60%nos últimos 50 anos, principal- mente nos países em de- senvolvimento. A maioria dos suicídios do mundo ocorre na Ásia. Segundo a Organização Mundial da Saúde, China, Índia e Japão podem ser respon- sáveis por 40% de todos os suicídios. Nos Estados Unidos, a taxa de suicí- dios está aumentando pela primeira vez em uma década, enquanto que no Brasil, regio- nalmente, o índice é semelhante ao de países com as maio- res taxas do mundo, principalmente no Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Evolução dos sui- cídios no Brasil De acordo com o Mapa da Violência 2011, estudo publi- cado pelo Governo Federal, entre os anos 1998 e 2008, o total de suicídios no país passou de 6.985 para 9.328, o que representa um aumento de 33,5%. Esse aumento foi superior ao da população do país no mesmo período, que foi de 17,8%, ao dos homicídios que cresceram 19,5% e ao dos óbitos por acidentes de transporte, 26,5%. Destaca-se a região Nordeste de forma preocupante, cujos suicídios passaram de 1.049 para 2.199 – mais que duplicaram no período ao crescer 109%. Nessa região, três unidades – Paraíba, Piauí e Sergipe – mais que triplicam seus quantitativos. Concepção da ideia de suicídio Segundo a psicologia, existem vários comportamen- tos que indicam o surgimento da concepção da ideia de suicídio. Dentre eles, o relato de querer desaparecer, dormir para sempre, ir embora e nunca mais voltar ou mesmo objetivamente o relato do desejo de morrer, mesmo numa brincadeira, devem ser considerados indícios significativos. Importantes indicativos são o uso abusivo de álco- ol, especialmente quando o início for precoce, existir um histórico familiar de alcoolismo e houver eventos disruptivos recentes ou perda de uma relação interpes- soal importante. Outro importante indicativo é o uso de drogas ilegais. Enquanto pessoas com histórico de abuso de drogas têm 50 vezes mais probabilidade de tentar suicídio do que os que nunca usaram. Mais de 40% dos suicidas têm histórico de abuso de álcool ou outra substância. Quanto mais comportamentos indicativos mais pro- vável a ideação e necessidade de intervenção. “Tristezas muito prolongadas e isolamentos radicais devem ser acompanhado com zelo e cuidado pelos mais próxi- mos”, explica a psicalista. Intervenção Quando a preocupação do risco de suicídio ocorrer em relação a uma pessoa, esta deve ser encaminhada a uma avaliação psiquiátrica, em emergências de hos- pitais que trabalhem com psiquiatria, para que se possa avaliar adequadamente o risco e oferecer tratamento. Esse tratamento poderá ser uma internação, quando for avaliado que o risco é muito grave, ou tratamento ambulatorial (consultas regulares com psiquiatra), oca- sião em que é feita uma avaliação das circunstâncias da vida da pessoa, se ela tem uma família que possa estar presente, observando-a e fornecendo-lhe suporte, e à qual, ela própria, apesar da vontade de se matar, possa comunicar isso e pedir ajuda antes de cometer o ato. Caso seja identificada ideação suicida, a família deve procurar ajuda de um profissional. “É possível alguma recusa inicialmente, mas, frente ao risco, deve-se levar a pessoa ou, até mesmo, marcar uma consulta com CAPA //

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