HEBRON Atualidades 52 - Julho-Agosto/2011
12 // Hebron Atualidades // Por Dênia Sales MATÉRIA // ESTRESSE DE FÉRIAS Hebron Atualidades // 13 D epois de um ano de trabalho, finalmente chega o período de descanso: as tão sonhadas férias. Hora de pendurar a gravata, deixar de lado o acumulado de papel e desligar o computador. Momento necessário para descansar, recarregar as energias, desfrutar de atividades prazerosas, viajar e colocar em dia os planos que não puderam ser realizados durante o ano. Sensação de alívio? Não para alguns. Nesta época, algumas pessoas sentemmedo e angústia. Isso porque o ócio pode significar um verdadeiro tormento, chegando, em casos extremos, a gerar males como resfriado, fadiga excessiva e dores de cabeça ou musculares. Os especialistas batizam o fenômeno de “síndrome do lazer” ou “estresse de férias”, uma síndrome cada vez mais frequente. Sintomas O estresse de férias acontece quando o indivíduo encontra-se fora de suas atividades de rotina e caracteriza-se pela presença de crises de ansiedade, angústia, dores de cabeça e/ou musculares, náuseas e fadiga. O problema afeta homens e mulheres que apresentam um comportamento compulsivo pelo trabalho e, por isso, manifesta-se nos finais de semana, feriados prolongados e, principalmente, em períodos mais longos, como as férias, em que as pessoas, acostumadas à filosofia da hiperatividade, encontram- se livres da rotina. Estima-se que até 5% da população economicamente ativa seja afetada pela síndrome do lazer. Os indivíduos que sofrem da síndrome não conseguem desfrutar das férias, se entediam e ficam irritados com as pessoas ao redor. As viagens e os momentos de lazer acabam se tornando um pesadelo e, com isso, contam os dias para o “descanso” acabar. Isso acontece porque o organismo passa a produzir grandes quantidades de cortisol, o hormônio do estresse, intensificando os sintomas da síndrome e enfraquecendo o sistema imunológico – o que faz com que a pessoa fique mais propensa a contrair viroses Por que alguns se estressam nas férias? O professor holandês Ad Vingerhoets, da Tilburg University, que estuda a síndrome do lazer há mais de três anos, diz que entre os principais sintomas detectados nas pessoas com a síndrome estão dores de cabeça, resfriados, cansaço, fadiga excessiva, dores musculares, falta de energia ou náuseas, com o detalhe de que os sintomas manifestam-se apenas nos períodos de férias. Várias hipóteses justificam os sintomas. Uma delas diz respeito aos aspectos biológicos. Durante os finais de semana as pessoas costumam se expor MATÉRIA // ESTRESSE DE FÉRIAS Fuja do estresse de férias Até 5% da população economicamente ativa é afetada pela síndrome do lazer, fenômeno cada vez mais frequente que manifesta-se nos finais de semana, e, principalmente, nas férias // Por Dênia Sales alternando avião, ônibus, trem, viajando muitas vezes por insistência de amigos e parentes, sejam os mais afetados por esse tipo de estresse. Talvez, eles até digam, na volta, aos amigos que gostaram da viagem, porque, convenhamos, dizer que não gostou de Paris é complicado. Já entre os que gostam de sair, também há duas situações diferentes. Há os que viajam para fugir do tédio cotidiano e da mesmice da sua cidade – estes também são sérios candidatos ao estresse, diante de qualquer contrariedade. Já entre os que gostam efetivamente de viajar, até os incidentes se tornam motivo de excitação”. Viciados em trabalho O estresse de férias também é a consequência de um comportamento socialmente aceito e, muitas vezes, estimulado, mais conhecido como ‘workaholic’ ou ‘viciado em trabalho’. Como todo distúrbio, a compulsão por trabalho é estabelecida através de uma combinação de diversos aspectos. Entre eles destacam-se: biológico, responde pelo tipo de personalidade do indivíduo; psicológico, responde pelo gatilho que irá acionar a repetição do comportamento; e social/ cultural, responde pela forma, conteúdo e intensidade que o comportamento compulsivo irá adquirir. O perfil do ‘workaholic’ e, consequentemente, do candidato à síndrome do lazer, é bem estabelecido. São pessoas perfeccionistas, controladoras e inseguras que costumam trabalhar mais de 10 horas por dia e vivem sob estresse constante. Uma pesquisa sobre trabalho da empresa Randstad mostrou que 34% dos empregados não estão seguros de que o trabalho pode seguir sem o seu suporte. Mais de 30%dos entrevistados afirmaram receber e-mails ou chamadas telefônicas profissionais durante as férias, enquanto 15% asseguraram ter começado s em p l a n e j ame n t o o pe r í odo de des canso . Aprox imadament e 8% nunca tiraram mais de uma semana de férias por temer que no escritório as coisas não funcionem tão bem ou se compliquem durante sua ausência. a substâncias químicas, e isso acaba provocando alguns problemas de saúde. Outra possibilidade está relacionada às transições do ambiente de trabalho para o ambiente de lazer. Há ainda explicações psicológicas e comportamentais. Algumas pessoas costumam ingerir mais café ou dormir mais do que o de costume quando estão de folga. E, nesses casos, é comum sentirem enxaqueca. O ambiente social também pode motivar os sintomas. Estresse em viagens “Férias com viagem e férias sem viagem. São duas coisas muito diferentes. Curiosamente, não conheço exemplo de quem se estresse ficando em casa e na própria cidade. Já nas viagens – e quanto mais longe, pior! –, os casos são inúmeros”, explica o sociólogo Luiz Octávio Camargo, autor do livro “O que é Lazer” (Ed. Brasiliense) e professor do bacharelado em Lazer e Turismo pela Universidade de São Paulo (USP). O que é esse estresse? De acordo com Luiz Octávio, é o produto de algumas circunstâncias como a tensão nos dias que antecedem a viagem, o medo de não esquecer nada, o medo de que aconteça algo em casa e, por isso, o desespero para voltar logo, a sensação de que está voltando mais cansado do que foi, de que a viagem não compensou nem pelo dinheiro gasto nem pelo que se poderia fazer ficando em casa, não raro redundando em afecções diversas, como, por exemplo, problemas digestivos ou aumento da pressão. “Isto afeta muito mais pessoas do que se imagina”, diz. Por que então as viagens que, ao proporcionar mudança de paisagem, ritmo e estilo de vida (o que em tese é desestressante) causam essas perturbações em tantas pessoas? “Há uma causa geral que se deve mencionar logo de início: as viagens são o maior requinte do lazer das pessoas (e aqui, para quanto mais longe, melhor!), transformando- se naquilo que os sociólogos chamam de busca de distinção social”, ressalta o sociólogo. Luiz Octávio explica que muitas pessoas se metem em grandes viagens com cenários que passam de forma galopante na frente deles. “É de se supor que esses grupos que viajam por diferentes países em 30 dias,
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