HEBRON Atualidades 51 - Maio-Junho/2011

6 // Hebron Atualidades Hebron Atualidades // 7 // Por Vivianne Santos Nascimento: uma longa história A obstetrícia surgiu como especialidade em 1806, incorporando um conjunto de práticas tocológicas, apesar de ter sua origem no conhecimento adquirido pelas parteiras História Os primeiros relatos associando a obstetrícia como prática desenvolvida por médico data de 2.500 a.C. Contudo, foi uma prática por muito tempo atribuída a parteiras, curio- sas ou curandeiras. Em 377 a.C., houve uma evolução marcante de toda a medi- cina e, consequentemente, da obstetrícia, por meio da difusão dos pensamentos de Hipócrates na civilização grega. Na Renas- cença, há um ressurgimento da ciência e arte dos partos, com muitos livros publica- dos, na Europa, sobre o assunto. Em 1720, foi fundada, na França, a primeira clínica obstétrica com objetivos didáticos. No século XVI, nasceu, tam- bém, a obstetrícia alemã, inaugurada com a Escola de Estrasburgo. Transformações na obstetrícia No século XVII, a participação masculina no parto era ainda pouco frequente, devido ao relativo atraso da tocologia médica, quando comparado ao desen- volvimento da medicina como um todo. A medici- na moderna nasceu sob a tutela cirúrgica, e os primeiros cirurgiões que atendiam ao parto estavam mais focalizados na hemostase, na sutura e na drenagem, fato que retardou o desenvolvimento de um saber voltado às particularidades da gestação e do parto. Por outro lado, a profissão de par- teira começou a sofrer um declínio ao fi- nal do século XVI, ocasião da invenção do fórceps obstétrico pelo cirurgião britânico Peter Chamberlen, que idealizou o primeiro instrumento em 1598. Vale res- saltar, também, que, com a entrada do médico no quarto da parturiente, ocorreram várias mudanças no processo de assistir, uma delas diz respeito à postura e à posição adotadas pela mulher durante o período de dilatação, expulsão ou mesmo dequitação. O confinamento da parturiente no leito durante do o trabalho de parto transformou-se em uma prática a ser incorporada no atendimento à mu- lher. Há menos de três séculos, as mulheres adotavam a posição vertical durante o trabalho de parto. O nascimento é historicamente um evento natural, considerado mobilizador e marcante na vida da mulher e da família. Até mesmo as primeiras civilizações atribuíram a este acontecimento inúmeros significados culturais que sofreram e sofrem transformações através das gerações. A experiência do parto varia amplamente de uma cultura para outra. Toda sociedade possui re- gras que controlam o nascimento, quer especificando o local de sua ocorrência, quer determinando quem aten- de à parturiente ou indicando comportamentos a serem adotados durante o trabalho de parto. Nas mais diferentes culturas, as vivências do parto foram de caráter íntimo e privado, e uma experiência compartilhada entre mulheres. A assistência obstétrica do século XVI ao XIX era atribuída às parteiras, “coma- dres” ou “curiosas”, e o acesso ao quarto da parturien- te era oculto, sendo proibida, por ordem moral, a entra- da de homens em seus aposentos. Havia uma grande variedade de talismãs, orações e receitas mágicas para aliviar a dor das contrações, e a parturiente era auxi- liada por mulheres, geralmente idosas, que, junto com as parteiras, acompanhavam todo o trabalho de parto. No entanto, no final do século XIV, médicos e teólogos passaram a questionar as práticas das mulheres quanto ao uso de poções e cuidados em relação à gravidez, ao parto e ao pós-parto. Nas situações em que a parteira ficava diante de um caso complicado, ela procurava primeiro reconhe- cer o que estava acontecendo, para, em seguida, sair em busca de outra parteira mais experiente. Apenas em último caso, ela buscava auxílio de um cirurgião. Desse modo, a presença de um cirurgião no parto era vivenciada com ansiedade pela mulher, pois indicava a gravidade da situação. Assim, gradualmente, entre os séculos XVI e XVII, começou a surgir, na assistência ao parto, a figura do cirurgião, e a parteira foi perdendo a primazia e o seu espaço. No ensino médico, a obstetrícia surgiu como espe- cialidade em 1806, incorporando um conjunto de prá- ticas tocológicas, apesar de ter sua origem no conheci- mento adquirido pelas parteiras. Atualmente, a obstetrícia é definida como o ramo da medicina que estuda a reprodução na mulher. Inves- tiga a gestação, o parto e o puerpério nos seus aspectos fisiológicos e patológicos. O obstetra é o médico espe- cialista que cuida do desenvolvimento do feto, além de prestar assistência à mulher nos períodos da gravidez e pós-parto (puerpério). O termo “obstetrícia” vem da palavra latina “ obste- trix ”, que é derivada do verbo “obstare” (ficar ao lado). Para alguns, seria relativo à “mulher assistindo à partu- riente” ou “mulher que presta auxílio”. // Bibliografia - MAMEDE F. V.; MAMEDE M. V.; DOTTO, L. M. G. l. Reflexões sobre deambulação e posição materna no trabalho de parto e par- to. Revista de Enfermagem da Escola Anna Nery, v. 2, n. 11, p. 337–342, jun. 2007. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ean/ v11n2/v11n2a23.pdf. - Victor Hugo de Melo; Evolução Histórica da Obstetrícia. Tese de Mestrado Dep. Ginec. Obst. FCM UFMG – 1983 Atribui-se a François Mauriceau, médico francês do século XVII, a maior influência na mudança da posição da mulher no parto de vertical para horizontal. Ele afirmava que a posição reclinada seria a mais confortável para a partu- riente e para o profissional que assiste o parto. A posição supi- na - deitada de costas -, que no início foi usada apenas durante os períodos de expul- são e nascimento, passou, posteriormente, a ser indicada também para a fase de dilatação cervi- cal. O aumento do uso de fórceps e da prática das cirurgias, a partir do século XVIII, parece ter sido também impor- tante fator na manutenção das posi- ções reclinadas. A obstetrícia no Brasil Com a chegada da Corte Portuguesa no Brasil, em 1808, ocorreu a implantação do ensino ofi- cial de medicina. A primeira escola foi implantada na Bahia e decorreu de um pedido do Barão de Goyana - José Correia Picanço -, que falou a D. João VI da necessidade de se criar um colégio de cirurgia. Este concordou com a ideia. A segunda escola a ser autori- zada por D. João VI foi a do Rio de Janeiro. Isso se deu devido à sua mudança para lá, em fevereiro de 1808. A obstetrícia, ao firmar-se como matéria médica, acompanhou a evolução da tecnologia, ocorrendo, então, as primeiras ações voltadas a disciplinar o nas- cimento. O parto, antigamente visto como aconteci- mento natural e fisiológico, passou a ser compreen- dido como um “fenômeno médico”. Assim, o parto deixou de ser privado, íntimo e feminino, passou a ser vivido de maneira pública, com a presença de outros atores sociais HISTÓRIA DAS ESPECIALIDADES MÉDICAS // PARTE 11 Modelos de forceps Modelos de cadeiras de partos de várias regiões da Europa e América

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