HEBRON Atualidades 51 - Maio-Junho/2011

14 // Hebron Atualidades Hebron Atualidades // 15 // Por Dênia Sales N uma cidade do interior do Brasil, uma jovem “reencontra” uma amiga de infância que, ago- ra, mora distante. No mesmo instante, uma mãe sorri ao ler um e-mail enviado pelo filho que estuda em ou- tro país, um adolescente verifica a previsão do tempo do lugar para onde viajará no final de semana, uma professora encontra um material útil para o dever de casa de seus alunos e dois desconhecidos começam uma nova amizade. Tudo pela internet. Com cerca de 2 bilhões de pessoas conectadas no mundo todo, segundo dados divulgados em janeiro de 2011 pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), a re- volução da internet mudou a maneira do mundo se comunicar e se relacionar. No Brasil, ela foi rapidamente incorporada aos há- bitos dos brasileiros e configurou uma nova geração - “multimídia on-line” - habituada ao uso constante e prolongado de diferentes tecnologias de comunicação desde a infância. Para se ter ideia, no País há, aproxi- madamente, 68 milhões de usuários, dos quais parcela significativa tem entre 2 e 17 anos de idade, segundo a ONG SaferNet Brasil, organização não governamen- tal com a missão de defender e promover os Direitos Humanos na Internet. A ferramenta oferece ricas oportunidades para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, de comu- nicação e socialização para crianças e jovens e até se tornou indispensável para a educação. Seu uso pode e deve ser estimulado quando orientado para ser éti- co e responsável. O importante, entretanto, é lembrar que, como outros espaços públicos, a internet requer cuidados para proteger as crianças e adolescentes dos riscos que a rede oferece. Os riscos Messenger, Orkut, Facebook, blogs, Twitter. Inú- meros são os instrumentos que atraem os jovens ao mundo virtual. E não há dúvida de que a internet é uma ferramenta que veio para encurtar distâncias, de- mocratizar o acesso à informação e ao conhecimento e facilitar a vida do internauta com diversos recursos. Mas existem também alguns fatores negativos, como pedofilia, pornografia e crimes cibernéticos. As crianças e adolescentes estão mais vulneráveis a se tornarem vítimas dessas práticas ilícitas na rede. Sem noção da vastidão do território virtual, acabam expostos a pedófilos, racistas e preconceituosos de vários tipos e idades. São os chamados “bandidos digitais”, que usam os sites de relacionamento para arriscar encontros e incentivar comportamentos ma- liciosos, aproveitando-se da falta de experiência dos QUALIDADE DE VIDA // INTERNET Antenados com os riscos da internet menores. Por isso, o cuidado deve ser redobrado. A advogada Janaina Morotó sabe bem disso. Ela permitiu que o filho de 10 anos abrisse uma conta no Orkut, mas faz questão de monitorar as atividades dele na rede. As maiores preocupações de Janaina são com a pedofilia online e o medo do menino ficar viciado na internet. A preocupação de Janaina tem sentido. O crescimento vertiginoso da internet, por exemplo, tem contribuído para a expansão de um crime que não respeita fronteiras: a pedofilia. De acordo com dados da SaferNet Brasil, que também recebe denúncias de pedofilia e outros crimes cibernéticos, são registrados no país, a cada mês, cerca de 700 abusos sexuais con- tra crianças e adolescentes na rede mundial de com- putadores, uma média de 23,33 por dia, um por hora. Já o Disque 100 recebe anualmente cerca de 10 mil denúncias de pornografia infantil na internet. “A rede é pública e, como tal, os jovens precisam aprender a agir em público cada vez mais cedo, às vezes, antes de ter maturidade para isso. Precisam aprender quais informações sobre si podem ser pu- blicadas, como interagir com desconhecidos, como se apresentar para o mundo, visto que absolutamente tudo o que fazem na rede pode ser visto, copiado e divulgado. Nem sempre os jovens (ou mesmo os adul- tos) têm noção das possíveis consequências dessa ex- posição constante”, avalia Betina von Staa, que atua na pesquisa do impacto de tecnologias em escolas pú- blicas e particulares e com formação de professores para o uso da tecnologia e educação on-line. Pesquisas Apesar das importantes pesquisas sobre o univer- so e perfil dos internautas brasileiros, poucos são os dados que discutem segurança para além das ques- tões patrimoniais (roubo de contas bancárias, cartões de crédito, direitos autorais) e técnicas (vírus, spam). Foi pensando nesta carência de informações, que pu- dessem agir diretamente no problema, que a ONG SaferNet idealizou pesquisas para criar indicadores de segurança, também, no que diz respeito ao uso ético e responsável da internet. Uma delas, realizada no Rio de Janeiro, em 2009, estudou os “Hábitos de Navegação” com educadores e alunos do Estado. Um dos resultados diz respeito ao uso intenso da rede. Considerando a média de uma a três horas diárias (39,48%), o uso da internet é bas- tante intenso e está se incorporando gradativamen- te ao cotidiano dos alunos. As atividades preferidas são lideradas pelo uso dos sites de relacionamento (74,12%), seguidos pelos jogos (51,56%) e músicas ou filmes (45,91%). O fato das pesquisas escolares estarem entre as atividades preferidas, com 20,62%, indica um uso moderado da internet para estudos e QUALIDADE DE VIDA // INTERNET complemento das atividades escolares. Outro aspecto que merece atenção é o fato de 47% dos alunos admitirem que os pais não impõem limites para a quantidade de tempo de navegação. Acompanhamento Numa sociedade cada dia mais virtual, Betina Von Staa acredita que é correto os pais monitorarem as atividades de seus filhos na rede. “Os pais precisam monitorar o que os filhos fazem. Desde sempre existe a expectativa de que os pais observem com quem seus filhos andam, o que fazem e como se comportam fora de casa. Também é necessário observar o que fazem na internet. Não é preciso usar as senhas dos filhos para bisbilhotar o que estão fazendo, mas conversar sobre o que gostam de acessar, sobre seus temas de conversa e visitar seus espaços de relacionamento como qualquer outro usuário da internet”, aconselha. Betina também dá dicas para as crianças se prote- gerem dos perigos na internet. “Sempre pensar três vezes antes de postar alguma informação sobre si, saber que tudo o que se coloca na internet é públi- co, não acreditar em qualquer estranho (ou mesmo conhecidos) na rede, não dar informações pessoais, tais como endereço, telefone, escola em que estuda e informações sobre status econômico. As informações sobre gostos pessoais, em princípio, estão liberadas. Também não clicar em nada que pareça estranho, para evitar vírus e outros perigos. E, acima de tudo, se acontecer alguma coisa desagradável, pedir ajuda para um adulto. Não é preciso vivenciar a internet ro- deado somente por outros jovens”, diz. Para a pesqui- sadora, não se pode dizer que a internet é amiga ou vilã. “Ela não é amiga, nem vilã. É feita por pessoas. E pessoas são amigas ou vilãs?” Parcela significativa dos usuários de internet são crianças e adolescentes. Os pais precisam ficar atentos para proteger este grupo dos riscos que a rede oferece “Os jovens precisam aprender quais informações sobre si po- dem ser publicadas, como inte- ragir com desconhecidos, como se apresentar para o mundo, visto que absolutamente tudo o que fazem na rede pode ser vis- to, copiado e divulgado. Nem sempre os jovens (ou mesmo os adultos) têm noção das possí- veis consequências dessa expo- sição constante”. Betina von Staa

RkJQdWJsaXNoZXIy MzQ2NDM5